quinta-feira, março 23, 2006

Nightmare

Antes demais, desculpem-me por este post logo pela manhã... Talvez queiram voltar mais tarde... ou ignorá-lo....

Há qualquer coisa de muito perturbador nos sonhos... A sensação de realidade? A noção de que se não acordássemos talvez nunca soubéssemos que estávamos a dormir? mas esta discussão já deu o que tinha a dar. E dou por mim agora a pensar no Vanilla Sky. Se realmente a nossa possibilidade de sonhar pode ser encarada quase como um dom, que nos permite fugir às contingências físicas do real, também poderá ser vista como uma maldição, quando o surreal ultrapassa as barreiras da razoabilidade e adquire características negras, cruéis ou mórbidas que questionamos como poderão ter brotado da nossa imaginação. Hoje sonhei coisas horríveis...
Quando era pequena os pesadelos quase que eram benvindos porque depois de um sonho mau, normalmente uma perseguição fantástica por um dinossauro com asas ou qualquer coisa do género, tinha permissão para ir até ao quarto dos meus pais, chegava-me à beirinha da cama e dizia baixinho: "Mããã.... oh mãã... tive um pesadelo...." e a minha mãe levantava docemente o lençol e recebia-me em posição fetal, onde me sentia protegida de tudo. Perguntava-me o que se tinha passado, e eu lá começava a dissipar o sonho em palavras reais, daí a nada a minha mãe já me dizia "pronto pinguim, mas agora já tá tudo bem..." Eu ficava tranquila e podia dormir lá o resto da noite!

Não sei quando deixei de ir procurar abrigo naquela cama para três, se fiquei mais crescida e com pudor, se apenas sem pesadelos. De facto, não tinha um pesadelo há séculos! Mas o de hoje valeu por muitas noites em claro...
Estava numa aula da faculdade, pelos colegas que lá estavam e pelo facto de a minha mãe, de bata, começar a fazer-me sinais do lado de fora da porta, mas a aula era na escola secundária, porque tinha aqueles vidros que a ladeavam permitindo ver os colegas a sair das aulas mais cedo ou a irem para a rua com faltas de comportamento. Eu saí para ver o que a minha mãe queria e ela tinha uma radiografia de tórax minha, na mão, em que se viam dois nódulos, um sobre cada mama. Depois o sonho evolui a uma velocidade estonteante e já me vejo numa casa que não reconheço, com um diagnóstico terrível que implicava mastectomia radical bilateral. Mas nem conseguia ter tempo para pensar do que isso acarretaria porque não parava de vomitar e quando não o fazia acumulava-se um muco azul da minha boca que me impedia de respirar. Daí a nada, não sei se por me ter esquecido do início do sonho quando ele ia a meio, se simplesmente porque os sonhos não têm regras, dei por mim numa sala que faria lembrar um recinto de reuniões, num navio militar, onde decorria uma aula de imagiologia, eu peço ao Prof queme faça uma ressonância magnética, mas a máquina que sai do tecto e se coloca à frente do meu peito era semelhante à placa para fazer uma simples micro. À saída do resultado, o professor pede aos meu colegas que se retirem da sala e mostra-me a imagem, cheia de nódulos no pulmão direito, e com o pulmão esquerdo colapsado... Não se via coração :( Quando saí dessa sala, depois de falar com outra doente que partilhava o papel do diagnóstico comigo e que queria arrancar a parte dela, saí para o ar livre, tinha uma piscina, esperguiçadeiras, relvado e era de noite. Deitei-me a olha para o céu e começa um fogo de artifício espectacular, mas de um momento para o outro, uma daquelas lindas bolas de fogo, com círculos concêntricos de várias cores, cai do céu a uma velocidade alucinante em cima da piscina que estava ao meu lado emitindo aquele barulho e os fuminhos de quando deitamos água numa frigideira acabada de usar...

"Ana, o pequeno almoço já tá feito...." Cheguei à cozinha e abracei a minha mãe...

3 comentários:

Anónimo disse...

Cá para mim, isso são efeitos secundários da Frida Kahlo.

Ana disse...

:) talvez... com a vantagem de que no meu caso são mesmo só sonhos....

"Pensaram que eu era Surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade"
Frida Kahlo

Anónimo disse...

é bom sonhar. de alguma forma esconjuramos os nossos medos. qd nos lembramos do que sonhámos ainda é melhor pq permite-nos analisar os ditos (medos!). tens sempre um colinho às ordens.